terça-feira, 22 de abril de 2008

O vício aristocrático de querer falar pelo povo

O vício aristocrático de querer falar pelo povo

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As situações de pânicos servem, de maneira especial, para mostrar a
verdadeira face das pessoas. E quando o pânico se instaura em um grupo
político faz brotar, sem filtros e sem freios, seus verdadeiros conteúdos e
suas convicções mais profundas. O retrato mais completo disso é o artigo de
José Henrique Reis Lobo, presidente do diretório municipal do PSDB de São
Paulo, publicado na seção Tendências e Debates (página3), no dia 31 de
março, que produz uma síntese perfeita e irretocável do pensamento vivo - e
amargurado - do tucanato.

O texto de Lobo é uma pérola, brilhante e cristalina, de alguns conteúdos
profundos e permanentes do ideário tucano. Os principais deles : o viés
aristocrático de falar falsamente em nome do povo; a capacidade de distorcer
os dados com a sinceridade neurótica dos que só enxergam o próprio umbigo; a
fragilidade infantil de distribuir culpas para os outros; e a forte e irreversível inclinação para a direita, que faz com que o antigo PFL seja hoje, a bússola e a tábua de salvação dos tucanos.

O PSDB tem um vício incorrigível. Sempre que deseja se vangloriar, ou defender seus interesses internos, atacando quem não aceita a sua conversa fiada, trata de tentar colocar palavras suas na boca do povo. E não hesita para isso e por isso mesmo - em distorcer, rasteira e grosseiramente, os fatos. Daí, as pérolas que produz. Pérolas e pílulas da mentira e da mistificação.

Vejam o que Lobo diz: "para a maioria da população, não dá para pensar em
ter mais uma administração do PT na cidade. Não sou eu quem digo, são as
pesquisas". Que pesquisas? - é o caso de perguntar. Lobo não se dá ao trabalho de citar. Nem poderia. Pelo simples motivo de que as pesquisas dizem justamente o contrário do que ele afirma.

A pesquisa Datafolha publicada no dia 30 de março, por exemplo, registra um crescimento de 4 pontos da ex-prefeita, Marta Suplicy, em relação ao levantamento do instituto realizado em fevereiro. Ela ultrapassou Alckmin, ainda que persista a situação de empate técnico entre ambos, e abriu uma ampla dianteira sobre Gilberto Kassab, do DEM. Já na pesquisa do Ibope, divulgada no dia 7 de abril, ela abre uma vantagem de 8 pontos sobre Alckmin. Além disso, Marta tem recebido aprovação consagradora em todas as pesquisas que avaliam os prefeitos de São Paulo na última década, bem à frente de Maluf, Serra e Kassab.

Em um ambiente politicamente dividido como sempre foi São Paulo, existe melhor prova da aceitação e apoio à administração do PT? Para desespero de Lobo, o povo não é tucano. Nem está contente com o que vê. Achar, como Lobo, que a população está satisfeita, contente com as administrações do PSDB, é coisa de quem não consegue se afastar um minuto sequer do espelho, sem se dignar a olhar em volta. Mas o PSDB, nesse sentido, é mesmo um partido sedentário. Sedentarizou- se, aristocrática e hipnoticamente, diante do espelho. Não quer ouvir o que vem das ruas.

Por que Marta, antes mesmo de confirmar sua candidatura, cresce nas pesquisas? Por duas razões muito claras: em primeiro lugar, porque, numa visão retrospectiva, a população reconhece, mais e mais, os avanços e os
pontos altos de sua gestão, em coisas fundamentais, como educação, transportes e inclusão social. Em segundo lugar, porque as administrações tucano-democratas têm fracassado exatamente nestas áreas. E mais globalmente naquilo que venderam falsamente nas campanha passada: a suposta capacidade de planejar. A cidade de São Paulo é, hoje, uma prova viva disso tudo. É só ver o caos no transporte coletivo e no trânsito que tanto tem incomodado os paulistanos nos últimos meses.

O artigo do Sr. Lobo mostra, igualmente, que a cúpula do tucanato parece que não sabe pensar. Pois é um equívoco descomunal imaginar que a derrota que se avizinha vai se dar por causa do fracasso político da união de democratas e tucanos. A derrota vai se dar, isto sim, pelo fracasso administrativo deles em áreas vitais cidade. E pela incapacidade da gestão DEM/Tucana de produzir idéias novas e arrebatadoras.

O que está vindo das ruas é um sonoro "não" ao PSDB. Cresce a percepção do
desgaste e da inoperância das administrações tucanas. Crescem o cansaço e a
insatisfação diante de um PSDB que não resolve nada, que se firma, cada vez mais, como o partido do não fez, não faz nem vai fazer. O partido da retórica. Dos melindres personalistas e das filigranas discursivas.

Por fim, depois de toda a lábia enviesada e falsificadora, Lobo nos vem com o latinório de praxe. Diz que ainda é tempo de rezar um "ora pro nobis", antes que a vaca se encaminhe solenemente para o brejo. Mas não tem "ora pro nobis", nem "opus Dei" que dê jeito. Os acordes que estamos ouvindo, em São Paulo, falam inequivocamente de um réquiem. Final e definitivo, como todos os réquiens. Porque - contra democratas ou contra tucanos, ou com democratas e tucanos juntos, fazendo a cena de farinha do mesmo saco - a vitória será do PT.

José Américo Dias é jornalista, vereador e presidente do Diretório
Municipal do PT de São Paulo.

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