A guerra sindical na terra dos cegos
A guerra sindical na terra dos cegos
A luta pelo controle do sindicato dos servidores parece ser a bola da vez da esquerda em São José, que, incapaz de uma articulação política eficaz, continua brigando pelas sobras do poder enquanto a tucanada neoliberal, racha o bico de dar risadas lá de cima do 7º andar.
Refém do discurso cansado e pouco propositivo, firmado em palavras de ordens vazias de sentido nos megafones e carros de som, cujo apelo pouco afeta sua base que se vê sangrada dia a dia por um governo ultraliberal que furta na boa direitos trabalhistas sem que nada prático seja feito, o sindicato dos servidores, assim como tantos outros sindicatos, caiu em descrédito junto à sua base, que prefere ficar bem quietinha com medo de perder ainda mais.
Entre os muitos fatores responsáveis por este descrédito, ressalta-se justamente esta partidarização, para não dizer aparelhamento dos sindicatos por parte dos partidos de esquerda, que tem facilitado em muito, a velha, porém eficaz retórica governista de que o sindicato só faz politicagem.
Mesmo quando defende valores legítimos, como a questão do pagamento do gatilho, o sindicato tem perdido oportunidades preciosas de mobilizar novamente a categoria, ganhando assim força e legitimidade, erguendo bandeirinhas no meio do discurso, o que acaba desqualificando todo o sentimento gerado, dando a falsa impressão de que o que está em jogo não é o trabalhador e a categoria, mas interesses terceiros, ficando fácil para o governo desqualificar seus intentos e tudo ir por água abaixo.
E essa prática, ao que tudo indica, independendo de quem ganhe, parece que não vai mudar, pois todas as 3 chapas possuem estes compromissos até a unha do dedão do pé com as agendas de partidos políticos, portanto, este processo de deslegitimação vai continuar, e os servidores, assim como todas essas pessoas que hoje são contratadas de modo precário, como estagiários, bolsistas e outros, vão, infelizmente, continuar comendo o pão que o diabo amassou por falta de representatividade, devido à instituições como o sindicato, estarem mais voltadas para si mesmas e na manutenção de suas estruturas do que realmente fazer valer os interesses de classe.
Isso é muito triste quando vemos que São José possui hoje um dos sistemas mais perversos de exploração da mão de obra e expropriação da mais valia, como esse processo sujo de terceirizações sem fim, renúncia de pagamento de direitos trabalhistas sob argumentos jurídicos amorais tal essa bolsa-auxílio e a contratação de estagiários, e é claro, acurralamento ideológico e eleitoral de servidores , principalmente em relação às terceirizações, onde empresas e empregados são obrigados à seguir a doutrina do governo, silenciar-se sobre as muitas irregularidades e o que é pior, fazer campanha velada junto á população perpetuando o poder do opressor sob a pena de perderem contratos e empregos.
Ao invés deste discurso vergonhoso de chapa ligada ao PT, á vereador ou ao PSTU, o que devia estar em jogo é como mobilizar todos os servidores, sejam eles de carreira, terceirizados e bolsistas à dar um basta à esta política de retirada de direitos, de apropriação indevida de recursos físicos e morais dos trabalhadores por parte desta prefeitura e desta administração que tem feito gato e sapato dos servidores e da população, mas como ninguém grita porque tem medo, tudo indica que vão continuar fazendo o que bem entendem.
Se os partidos de esquerda realmente querem se firmar como alternativa, mostrem-se claramente como alternativa, através de discursos e práticas diferenciados, claros e exeqüíveis, não através de práticas de aparelhamento, pois a população não é tola, e sabe muito bem que quem aparelha sindicato, aparelha prefeitura e tudo que tiver pela frente.
Se querem ser alternativas, precisam ser diferentes, e, para ser diferentes as práticas não podem ser iguais.
J. Saladino