quinta-feira, 26 de junho de 2008

Uma eleição sem propostas

*Jorge Henrique Saladino

Esse jogo de esconde-esconde promovido tanto pelo governo quanto pela oposição para assumir publicamente suas candidaturas e na escolha do vice na cidade de São José dos Campos, na verdade esconde algo muito pior do ponto de vista democrático: a total ausência de projeto político de ambos os lados.

Estamos à cerca de 10 dias do início das eleições e até agora nenhum partido sequer pensou em discutir plano de governo, propostas para a cidade, preferindo todos, sem exceção, barganhar pequenos feudos, secretarias, currais eleitorais, ao invés de propor algo de substancial para que o a população possa optar por este ou aquele modelo de cidade para os próximos 4 anos. Aliás, o discurso dos partidecos puxa-sacos é o mesmo de 4 anos atrás quando elegeram o poste: - “Estamos juntos pro que der e vier não importa o que for enfiado goela abaixo”, afinal, para quem não tem luz própria como os partidecos de São José, até luz de poste serve de esteio.

O roteiro da campanha, previsível, deve ser mais ou menos este: O Governo mostrando um monte de obras e canteiros de flores e prometendo para a área social o que não fez em 12 anos, afinal 12 anos é pouco tempo; a oposição falando das maravilhas do governo Lula e, parafraseando o ex-presidente Fernando Henrique essa semana: “que fazem melhor com menos corrupção” e o PSTU falando de Lula, do neoliberalismo, de Marte, da Lua, reclamando de tudo, menos propondo algo concreto para a cidade.

Em outras cidades da região a coisa é ainda um pouco pior: além de não proporem nada, os vices tem de sair da família: é vice filho, é vice pai, é mãe, é vice esposa, afinal o poder não pode sair da cozinha de casa. (Parece até filme do poderoso chefão)

Aliás, o próprio critério noticiado pelos jornais para escolha dos vices de ambos os lados é emblemático desta morte anunciada da política valeparaibana: pra ser vice-prefeito não pode ser político! Afinal, quem, melhor do que eles, os políticos de São José dos Campos e região para saber que esses políticos não são confiáveis. Acorda Brasil!

Jorge Henrique Saladino

Arquiteto

terça-feira, 24 de junho de 2008

20 anos de PSDB: entre a divisão e a corrupção

20 anos de PSDB: entre a divisão e a corrupção

por Gilson Reis*


O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) foi fundado há vinte anos por meia dúzia de parlamentares desgostosos com a crise ética, política e econômica que vigorava na segunda metade do governo Sarney. A legenda surgia então como uma alternativa da elite nacional, com viés reformista e socialdemocrata, batizada de terceira via e inspirada nos partidos de mesma matriz ideológica que atuavam fundamentalmente na Europa ocidental.

Porém, ao contrário dos partidos socialdemocratas da Europa, vinculados ao movimento sindical e às lutas sociais, a sua caricatura brasileira desprezou qualquer participação popular e de transformação social. Aliou-se à alta burguesia financeira e aos setores paulistas da elite industrial e agrária. Não demorou muito e estava o PSDB coligado aos partidos de grande tradição fisiológica. Na área econômica, encontrou guarida na Febraban, na Fiesp e na CNI, e, na esfera política, interlocutores de toda uma geração de políticos da mais alta repugnância histórica: ACM, Bornhausen, Marco Maciel etc.

Nessa vasta aliança política, financeira e midiática, os tucanos não demoraram muito a alçar o posto máximo: o governo central, com a eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. A experiência histórica desse governo ainda está sendo escrita pelos historiadores, mas alguns parâmetros já estão perfeitamente delineados: alto índice de desemprego – o governo FHC gerou 10 milhões de desempregados; baixo crescimento econômico – o Brasil cresceu na ridícula taxa de 2,3% ao ano; corrupção – em oito anos de governo, dezenas de denúncias foram divulgadas, entre elas as do PROER, Sinvan, Pasta Rosa e Privatizações, mas nenhuma foi apurada; e miséria – a situação geral do povo brasileiro, que já era muito ruim, piorou ainda mais.

Com a vitória de Lula, em 2002, os tucanos, perdidos, anunciaram uma nova fase de crescimento pelo país, de consolidação dos princípios programáticos e de oposição permanente ao governo federal. O intuito, em certa medida, se confirmou. O PSDB elegeu no último pleito os governadores de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Alagoas e Paraíba, afirmando, portanto, importante presença no sul, sudeste e nordeste. Em relação à oposição ao governo Lula, o tucanato e seus aliados na Câmara e no Senado vêm demonstrando muita incapacidade e inconsistência política, consubstanciadas nos arroubos de seus líderes: José Agripino e Arthur Virgílio. No campo oposicionista, quem tem se destacado é a grande imprensa, que, desde o início do primeiro mandato, ocupa o papel da oposição. Quanto ao programa praticado nos estados governados pelo partido, o modelito econômico e social é o mesmo: Estado mínimo, privatização, perseguição aos funcionários públicos e negociatas de várias matrizes.

Entretanto, as dificuldades da socialdemocracia tucana, órfã de qualquer movimento social e perdida nos desígnios e desacertos do liberalismo selvagem, encontram-se no seu mais alto nível de degradação. Seu líder máximo, o conservador Fernando Henrique Cardoso, encontra-se nas trevas, escondido nas ruínas do seu governo, aprisionado na masmorra do liberalismo e impossibilitado de falar ao povo, que o odeia e o renega.

A governadora Ieda Crusius, outra representante do alto tucanato, está emparedada por vários escândalos de corrupção, denunciados pelo vice-governador Paulo Feijó (DEM), que proporcionou até agora a saída de quatro secretários de Estado. Na Paraíba, o governador Cássio Cunha Lima responde a dois processos, ambos já julgados pelo Tribunal Regional Eleitoral, que pediu a sua cassação. Para tentar salvar o mandato, o governador recorreu ao TSE, que, a qualquer momento, deverá julgar o recurso. Em Alagoas, o governador Teotônio Vilela realizou o maior ataque da história aos servidores públicos, proporcionando uma das maiores ondas de greve no estado, refletindo drasticamente na vida de toda a população alagoana.

Em São Paulo, dezenas de CPIs foram arquivadas. Entretanto, o último escândalo envolvendo a empresa Alston e o governo tucano foi estampado não por jornais brasileiros, é claro, mas pelo Wall Street Journal. A imprensa européia e as justiças francesa e suíça investigam o escândalo internacional, enquanto isso a imprensa nacional... Ainda no mais rico estado do país, milhares de professores estão em greve por melhores condições de trabalho e salário. O Estado de São Paulo, depois de 16 anos de tucanato, apresenta um dos piores indicadores educacionais.

Em Minas Gerais, os problemas não são menores, mas, por enquanto, estão todos acobertados pela ampla aliança construída pelo governador Aécio Neves. No estado de Tiradentes, de tradição libertária, a imprensa, a Assembléia Legislativa, a maioria dos partidos políticos, além da burguesia são controladas pelo governador. A política neoliberal e o autoritarismo estão coesionados e controlados por uma maioria comprada pela corrupção subterrânea ainda não revelada. Contudo, de uma hora para outra, surgirão denúncias e escândalos envolvendo a Cemig, a Copasa, a Gasmig e outras empresas e maracutaias praticadas pelo neto de Tancredo Neves.

Mas é no campo da unidade partidária que os tucanos vivem o seu pior momento astral. A luta fratricida em São Paulo entre o governador Serra e o candidato à prefeitura da capital Geraldo Alckmin chegou ao maior grau de constrangimento dos últimos seis anos. Em Minas Gerais, o governador Aécio Neves desconsidera o partido e, num oportunismo descabido, definido pelo seu projeto pessoal, alia-se ao maior adversário nacional do PSDB, o Partido dos Trabalhadores (PT). No Nordeste e no Sul, seus candidatos sequer aparecem em condições de disputar as prefeituras de Porto Alegre, Maceió e João Pessoa.

Tudo indica que, ao comemorar vinte anos de vida, o PSDB, um jovem partido da elite brasileira, já apresenta sinais de velhice e de mesmice. A incongruência do que prega e do que faz, a inconsistência do que se propôs a fazer, o desatino pelo poder a qualquer custo, a corrupção, a divisão entre seus principais líderes e o distanciamento dos trabalhadores e dos movimentos sociais são indicativos da morte terminal de um partido criado na pós-ditadura militar e morto na pós-ditadura neoliberal.

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*Gilson Reis, Presidente do Sinpro - MG - Sindicato dos Professores e dirigente nacional da CSC.

Pedro Simon é o cabotino fundamental

Pedro Simon é o cabotino fundamental

Nas várias horas que o senador esteve na tribuna ele não aproveitou para explicar que grande parte da crise no qual está enterrado o Rio Grande é de sua inteira responsabilidade política, uma vez que Sua Excelência é o padrinho eleitoral de inúmeros governadores que passaram pelo Piratini

- por Cristovão Feil (http://diariogauche .blogspot. com/)

O jornal Zero Hora entrevistou o senador Pedro Simon (PMDB-RS). Está publicado hoje, no jornal do bairro Azenha de Porto Alegre.

Trata-se de uma das coisas mais cabotinas que eu já vi na mídia oligárquica brasileira desde que o pioneiro Hipólito José da Costa lançou o seu impresso em 1808.

É uma tentativa de mitificar o gesto - de resto, inútil - do senador guasca ao discursar por várias horas no Senado na última sexta-feira, com o intuito - repito, inútil - de pressionar o Executivo para que enviasse ainda naquele dia a mensagem autorizando um empréstimo com o Banco Mundial.

A entrevista quer selar Pedro Simon como o herói responsável por uma façanha digna dos farroupilhas (ou quem sabe de Júpiter), tratando o governo federal como um agregado de pequenos moleques que insistiam em boicotar a redenção do Rio Grande.

Tem uma pergunta do repórter de ZH que é comovente:

ZH - Durante o longo período que ficou no plenário, o senhor não sentiu necessidade de tomar água ou ir ao banheiro?

Simon - Água eu bebia até demais. A todo momento, tinha água e cafezinho. Do resto, eu nem me lembrei. Não me passou pela cabeça.

Nas várias horas que o senador de bombachas esteve na tribuna ele não aproveitou para explicar aos seus pares (foto com o senador Heráclito Fortes) que grande parte da crise no qual está enterrado o Rio Grande é de sua inteira responsabilidade política, uma vez que Sua Excelência é o padrinho eleitoral de inúmeros governadores que passaram pelo Piratini e só o afundaram com mais ênfase e intrepidez cívica. Simon também deixou de comentar sobre o pântano ético no qual se movimenta a sua protegida, Yedinha Rorato Crusius, e tampouco sobre as trapalhadas no qual estão metidos seus pupilos que dirigem o Banrisul.

Um pena, perdeu uma oportunidade de ouro, Sua Excelência. Chamou a atenção na sexta-feira, também, que nenhum senador tucano estivesse presente à sessão. Será que os cardeais tucanos são contra a "redenção" do Rio Grande?

Zero Hora, aliás, omite sobre essa vadiação dos companheiros da governadora Yeda Crusius, naquele momento tão crucial para ela.

Leia a entrevista cabotina aqui na íntegra.

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P.S: Cabotino, segundo o dicionário Houaiss, é relativo a ou indivíduo presunçoso, vaidoso, que se comporta afetadamente ou tenta atrair sobre si as atenções, e alardeia as qualidades que pretensa ou realmente possui.

Escândalos e racha em SP assombram os 20 anos do PSDB

Escândalos e racha em SP assombram os 20 anos do PSDB

VERA MAGALHÃES e SILVIO NAVARRO
Folha de S. Paulo
22/6/2008

Aniversário é marcado por pelo menos três casos de corrupção em gestões pelo país e guerra na maior base eleitoral da legenda

Tucanos apontam como uma das causas do "inferno astral" a disputa antecipada entre Serra e Aécio pela candidatura à Presidência

Sete meses depois de realizar um congresso destinado a revitalizar o partido para a sucessão presidencial de 2010, o PSDB completará 20 anos na próxima quarta às voltas com três escândalos de corrupção em administrações pelo país e com uma guerra declarada em sua principal base eleitoral, São Paulo -que poderá ganhar contornos ainda mais explosivos hoje, seja qual for o resultado da convenção na capital.

É diante desse cenário, que só fez se agravar desde o congresso de 23 de novembro, que o partido reunirá todos os caciques que se alfinetam nos bastidores, na quarta-feira, em uma sessão solene do Congresso. Se naquela época o dilema tucano resumia-se à disputa antecipada entre os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) pela candidatura à Presidência, hoje se alastra em crises regionais.

A maior delas está localizada justamente na maior cidade do país, onde Geraldo Alckmin, que há dois anos era o candidato da sigla ao Palácio do Planalto, não conseguiu construir um consenso para concorrer à prefeitura. A ala majoritária dos vereadores tucanos preferiu indicar o vice de Gilberto Kassab (DEM), herdeiro do cargo deixado por Serra. A disputa entre kassabistas e alckmistas deixou os bastidores e ganhou contornos de guerra campal, com xingamentos, recursos judiciais e até ameaças de cadeiradas.

Pelo país, o partido tem pelo menos três escândalos em investigação:

1) a crise do Detran gaúcho, que derrubou o núcleo do governo Yeda Crusius;
2) o caso da multinacional Alstom, suspeita de ter pago propina a tucanos em São Paulo em troca de contratos no Estado; e 3) os desdobramentos da Operação Santa Tereza da Polícia Federal, que apontou o prefeito tucano de Praia Grande, Alberto Mourão, como um dos beneficiários de desvios do BNDES.

A essa lista recente, somam-se processos contra os governadores Cássio Cunha Lima (PB), que enfrenta ação na Justiça Eleitoral por uso da máquina na reeleição, e Teotonio Vilela Filho (AL), denunciado pelo Ministério Público por envolvimento no esquema desbaratado pela Operação Navalha da PF, que apontou fraudes em licitações. Ele nega participação.

(esqueceram do Marcone Pirillo (GO), Cícero Lucena (PB) e do vice-governador e SC cassado em primeira instância)

Além dos problemas no campo ético -terreno em que Alckmin criticou Lula em 2006-, o PSDB enfrenta a falta de quadros políticos expressivos e de projeto de poder próprio nos principais Estados. O partido só disputará as eleições como favorito em três capitais: Curitiba (PR), Cuiabá (MT) e Teresina (PI). Em São Paulo, Alckmin disputa a liderança nas pesquisas com Marta Suplicy (PT), mas é questionado internamente. Em Salvador, tem um candidato competitivo, Antonio Imbassahy, mas que enfrenta a falta de aliados de peso e de estrutura de campanha.

O PSDB não terá candidatos em Belo Horizonte, a despeito da alta popularidade de Aécio Neves, reeleito no primeiro turno com 77% dos votos, nem no Rio de Janeiro, onde é raquítico eleitoralmente. Também não haverá tucanos na cabeça de chapa em Recife (PE), terra do presidente nacional da sigla, Sérgio Guerra, nem em Fortaleza (CE), base de outro cacique, o senador Tasso Jereissati.

FHC, o ressentimento de Narciso

FHC, o ressentimento de Narciso

O que move FHC ao afirmar que, se as eleições presidenciais fossem hoje, a bandeira do PSDB seria "nós fizemos melhor e com menos corrupção"? O ressentimento, ponto de chegada da inveja, é compreensível, mas, quando usado como arma política, revela apenas um Narciso ferido, sem qualquer noção de limite.
*Gilson Caroni Filho

Não há nenhuma evidência de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tenha sido tomado por um súbito surto de amnésia. Muito menos que um acesso de idiotia o tenha feito acreditar nas "benesses" do neoliberalismo que gerenciou em seus dois mandatos.

Assim, como explicar as afirmações contidas na entrevista concedida ao jornal Valor Econômico ( 20/6)?

Menos que um cálculo político, a adesão plena à razão cínica pode ser a chave explicativa para entender o que move FHC ao declarar que, se as eleições presidenciais fossem hoje, a bandeira do PSDB seria "nós fizemos melhor e com menos corrupção".

Ou, haverá um pingo de ingenuidade, quando diz que o PT assumiu, em linhas gerais, a visão tucana só que "com um viés mais dirigista, estatizante" , mas a linha política continua sendo a desenhada pelo consórcio que gerenciou por oito anos? Sua decantada argúcia analítica cedeu lugar a uma estratégia narrativa que persegue a zombaria? Ou vislumbramos desespero na ante-sala do ostracismo político?

Será preciso recordar que de 1994 a 2002, seu governo consagrou o clássico movimento de elites que oscilam entre interesses subnacionais, de natureza oligárquica, e as demandas de um setor supranacional, representado essencialmente pelo capital financeiro? É necessário relembrar que as reformas constitucionais desfiguraram a Constituição de 1988 antes mesmo que seus dispositivos entrassem em vigor por falta de regulamentação? Que entre ser estadista e gerente da banca, optou, sem pestanejar, pela segunda condição?

Talvez seja o caso de reafirmar a conclusão de 300 delegados de diversos movimentos sociais, reunidos em Itaici (SP), em dezembro de 1997; ’³feito sem consulta ao povo brasileiro, baseado em negociações mais que suspeitas, apoiado pelo controle monopolista dos meios de comunicação de massa, esse processo (o das reformas) se assemelha a um golpe de Estado prolongado no tempo, que reverte as limitadas conquistas obtidas em um maior momento de participação democrática, durante os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte" .

E, como destacou à época, a professora Maria da Conceição Tavares, o retrocesso político foi de tal monta que, se antes da chegada de FHC ao governo, sempre havia um partido das classes dominantes na oposição por questões regionais, a engenharia institucional do tucanato conseguiu colocar todos, sem exceção, no aparato estatal. Uma obra que beirou um bonapartismo de bufonaria terá sido o que o ’³PSDB fez melhor e com menos corrupção"?

Multiplicando favores, incentivos e concessões ao capital estrangeiro, o desequilíbrio em conta-corrente saltou de 0,3% do PIB em 1994 para 4,2% em 1997. E estávamos apenas no início do festim diabólico. O destino desse modelo, revertido pelo governo Lula, nos conduziu a uma grave crise econômica. Será muito pedir a um ex-presidente que nos poupe de representações grotescas? Por que não sustentar seu horror ao desenvolvimentismo e reafirmar a confiança ilimitada no mercado como mecanismo de alocação de recursos.

É falaciosa sua afirmação de que as diferenças entre PT e PSDB ’³são mais da ordem da política do que da economia". Mais que isso. É reiteração da pedra de toque da hegemonia neoliberal que advoga, como se fosse possível, uma despolitização da economia. O resgate do Estado como indutor do desenvolvimento econômico, certamente, irrita o ’³príncipe’´ uspiano. Afinal, em seu governo, o Estado foi fatiado por arrivistas, empresários privados e seus representantes. Nunca, na história brasileira, lógica de governo e de negócios se confundiram com tanta intensidade.

O problema de Fernando Henrique é o inconformismo com o sucesso do presidente que lhe sucedeu. Por ironia do destino, aquele que era para ser o governo marcado pela brevidade, consolidou as promessas da ética republicana e logrou avanços incontestes no campo dos direitos da cidadania. A incorporação de massas que, por longa data, lutaram por demandas datadas dos séculos XVIII, XIX e XX, promove o encontro do país com ele mesmo nesse milênio.

O que se pede ao notório teórico da Nova Dependência é que não despreze a inteligência dos leitores de classe média. O ressentimento, ponto de chegada da inveja, é compreensível, mas, quando usado como arma política, revela apenas um Narciso ferido, sem qualquer noção de limite. Um passo à beira do ridículo.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Direitos ou privilégios – o retorno das greves

Direitos ou privilégios – o retorno das greves

Jorge Henrique Saladino

De uma hora para outra, o que parecia impossível em tempos de globalização e seus instrumentos de pressão ideológica como a irreversibilidade das mudanças de modo que quem não se adequar vai ser engolido pelo monstro do desemprego, as greves e as mobilizações de trabalhadores voltaram à acontecer, frutos de uma política desavergonhada que insiste em querer transformar direitos legítimos em supostos privilégios.

O que mais impressiona nesta nova onda de greves (só em São José dos Campos já somam-se 5: dos vigilantes, dos motoristas e demais trabalhadores do transporte coletivo, da Hitachi, da creche dos mamulengos, dos professores do Estado) fora a pressão pública contra os funcionários da GM e do sindicato (assim como aconteceu no caso da greve dos condutores onde a prefeitura usou a tv para tentar jogar a população contra os grevistas), que por defenderem seus direitos constitucionais como, por exemplo, o de receber pela hora-extra trabalhada, é que, em todos os casos, os trabalhadores não estão se mobilizando para garantir melhores condições de trabalho e de salário, mas, pasmem, para garantir que seus direitos régios e constitucionais não fossem duma hora para outra subtraídos, sob a mesma ladainha de sempre, que direito de trabalhador é privilégio.

O mais interessante disso é que os mesmos que defendem com unhas e dentes que os trabalhadores cedam seus direitos, ou melhor dizendo, privilégios, como se fossem deles, trabalhadores, a obrigação de acabar com o desemprego estrutural (aquele que não importa o que você faça, não volta mais) abrindo mão de suas poucas conquistas.

Interessante ainda que, se os trabalhadores cedem, fazendo bancos de horas intermináveis, horas-extras, se especializando cada vez mais de modo à executar o trabalho de 2 ou 3, abrindo mão de parte de seus salários, essas ações combinadas, justamente responderão pelo aumento do desemprego, pois, que necessidade há em contratar novos funcionários se temos poucos que aceitam fazer o serviço de 2?

Interessante ainda dizer que, doar terrenos públicos, dar isenção de impostos, diminuir alíquotas e outros aos empresários não constituem privilégio, mas como gostam de dizer seus ilustres defensores, é direito deles, vez quer estão dando emprego aos pobres desempregados da cidade.

Ora meus amigos, quem dá não cobra, e até onde é sabido nenhum empregado recebe seu salário de graça, precisa trabalhar para conquistá-lo.

Má fé ou ignorância, não importa, a questão é que querem confundir o povo transformando vítimas em réus, tirando o pouco que eles tem e dando de graça para quem já tem de sobra.

É importante sim que a população recupere a auto-estima, volte à se mobilizar e não aceite mais tanta exploração, pois só assim aqueles que de fato tem privilégios vão ter que trabalhar um pouco para ter algum direito.

A mão que faz a máquina funcionar também à faz parar!

Jorge Henrique Saladino

Arquiteto

quinta-feira, 19 de junho de 2008

MAIS UM GOLPE DE MÍDIA CONTRA O IRÃ?

MAIS UM GOLPE DE MÍDIA CONTRA O IRÃ?

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) publicou em sigilo para a
ONU o seu novo relatório sobre o programa nuclear do Irã. Os Estados Unidos
foram rápidos em acusar os iranianos, por intermédio da Secretária de Estado
Condoleezza Rice, afirmando que "os iranianos têm muito a explicar".
Felizmente para os estadunidenses, como o relatório não foi revelado
publicamente, abriu-se mais uma janela para que palavras sejam trocadas como
convir, e a mídia ocidental cumpriu seu papel em atemorizar todos sobre o
"perigo que representa o Irã". Se o relatório finalmente tornar-se público,
será tarde demais para apagar a falsa retórica construída.

A mesma estratégia foi utilizada para viabilizar uma invasão ao Afeganistão,
depois ao Iraque, e agora ameaça o Irã. Meses antes, George W. Bush acusou
os iranianos de "matar estadunidenses no Iraque", ao supri-los com "armas de
combate sofisticadas" . A missão do general Petraeus, líder da ocupação no
país e herói da mídia ocidental, foi encontrar e forjar alguma prova dessa
acusação. Em maio desse ano, um "esconderijo de armas sofisticadas" foi
encontrado por Petraeus. A mídia comemorou, e a ligação do Irã com a
insurgência xiita parecia legitimar-se, mas naufragou quando especialistas
estadunidenses não conseguiram encontrar provas que ligassem as armas ao
Irã. Dessa forma, a história sumiu da mídia, mas as dezenas de manchetes que
acusavam o governo iraniano é que marcam as pessoas – o efeito da
propaganda.

O que restou então para assustar o povo ocidental é a questão do
desenvolvimento nuclear iraniano, e o relatório sigiloso da AIEA foi
revelado na hora certa. Antes de qualquer coisa, deve ser esclarecido que as
investigações da AIEA não tratam de assuntos atuais, no caso a produção de
armas sob o governo de Mahmoud Ahmadinejad, mas sim do histórico iraniano
com a tecnologia nuclear desde a disseminação da técnica na década de 1980,
sob coordenação do doutor A.Q. Khan, que desenvolveu a capacidade nuclear do
Paquistão. De acordo com o último relatório público da AIEA, "não há
evidências de um programa de armas nucleares não-declarado em lugar algum"
no Irã. Os Estados Unidos e seus dois principais aliados, o Reino Unido e
Israel, ignoraram o relatório e insistiram na retórica de acusações. Mas em
pouco tempo ficou claro que eles perceberam que contrariar os especialistas
da AIEA não os ajudava, uma vez que poderia destruir qualquer credibilidade
das investigações no futuro. Isso aconteceu com o Iraque, em que estava
provado pela AIEA que não havia as famosas "armas de destruição em massa",
mas não poupou Saddam Hussein de uma devastadora invasão baseada em
falácias. Mais uma vez, as mentiras caíram, mas as propagandas venceram.

Os Estados Unidos queriam o petróleo iraquiano, e querem o petróleo
iraniano. Saddam Hussein falou a verdade, abriu seu país para a AIEA, e foi
confirmado que ele não tinha "armas de destruição em massa". Ele pagou o
preço por ter aceitado o jogo dos Estados Unidos, e ter acreditado que
estaria salvo ao falar a verdade e agir de acordo com a Lei Internacional.
Mas a Lei não vale nada para a Casa Branca, e a questão verdadeira sempre
foi o petróleo. Nesse exato momento, advogados e diplomatas estadunidenses
lutam no parlamento iraquiano para aprovar uma lei que lhes garante o
controle do petróleo iraquiano, o estabelecimento de 13 bases permanentes
nos quatro cantos do país e imunidade a cidadãos estadunidenses das leis
iraquianas. Os iranianos já entenderam isso, e agora a comunidade
internacional precisa despertar – ter ou não ter armas nucleares não é mais
a questão.

O desenvolvimento de tecnologias nucleares é legal perante a Lei
Internacional para os países que assinarem o Tratado de Não-Proliferaçã o
Nuclear. Considerando isso, o Irã tem o direito de enriquecer urânio, já que
a República Islâmica assinou o tratado ainda em 1968. Mas isso não lhes
garante que a "liberdade e democracia" do ocidente não virão. O governo
iraniano de Mossadeq seguia o modelo democrático ocidental, mas decidiu
nacionalizar o petróleo iraniano. Como conseqüência, os Estados Unidos e o
Reino Unido lhe derrubaram, e instalaram o governo-fantoche do Shah,
operando ao lado de polícias secretas ocidentais. Os iranianos sabem disso,
e estão preparados. Pelo menos por enquanto, a verdade venceu.

FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo. com.br
Edição nº107 - http://orientemediovivo.com. br/pdfs/edicao_ 107.pdf
____________ _____
Humam al-Hamzah
Oriente Médio Vivo
www.orientemediovivo.com.br

Tucano bicando tucano A guerra dentro do PSDB - Quem dá mais?


Ala pró-Kassab dentro do PSDB diz temer fraude em favor de Alckmin

Kassabistas pressionam por voto em papel, mas Executiva Municipal fecha questão para usar urna eletrônica

Silvia Amorim e Eduardo Reina

A cada dia parece ficar mais difícil um acordo no PSDB paulistano para que não haja disputa na convenção de domingo. Os dois grupos tucanos - os que defendem o apoio à reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM) e os que querem candidatura própria com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) - não se entendem nem sobre a forma da votação na convenção.

Kassabistas, alegando risco de fraude, pedem que os votos sejam em papel. Os alckmistas dizem não ter motivos para descartar as urnas eletrônicas usadas nas últimas convenções.

O pedido do grupo pró-Kassab foi encaminhado à Executiva Municipal do PSDB na segunda-feira. "Nós queremos ter segurança na fiscalização. A urna eletrônica não é a usada pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral). Temos mais certeza no papel", defendeu ontem o líder dos vereadores do PSDB, Gilberto Natalini. O vereador Juscelino Gadelha foi mais direto ao assunto. "O diretório contrata uma empresa para fazer a eleição (fornecer as urnas), quem vai controlar?", questionou.

CONTROLE

Para os articuladores da campanha de Alckmin, a intenção dos kassabistas é controlar o voto dos 1.344 delegados convencionais. "Eles querem é marcar os votos. Na urna eletrônica isso fica impossível", acusou o deputado Edson Aparecido.

Alckmistas dizem que a ala do partido favorável ao apoio a Kassab está pressionando tucanos que têm cargos na prefeitura a votar na chapa que traz o prefeito como candidato do PSDB. Essa chapa foi protocolada anteontem no partido com a assinatura de 424 delegados. "Muitos assinaram sob pressão e, como o voto é secreto no domingo, já nos garantiram que votarão na chapa do Geraldo. Temos 900, 1.000 votos", disse Aparecido.

A convenção será realizada na Assembléia Legislativa a partir das 9 horas de domingo. Segundo o TRE, os partidos são responsáveis pelo encontro e não cabe ao tribunal ceder as urnas auditadas pela Justiça Eleitoral para essa finalidade.

A Executiva Municipal se reuniu ontem à noite para discutir o assunto e fechou questão pela adoção do voto eletrônico. O presidente do PSDB paulistano, José Henrique Reis Lobo, disse que o voto em papel somente seria usado em "último caso". "A urna eletrônica sempre foi usada pelo PSDB e é a nossa primeira opção", disse. "É muito mais ágil e transparente. Não entendo por que agora querer mudar. Se o problema é a urna, eles que indiquem qual urna querem usar", provocou o deputado Júlio Semeghini. Segundo ele, os vereadores serão formalmente informados amanhã da decisão.

Lobo evitou polemizar sobre a apresentação da chapa oposicionista por 11 dos 12 vereadores do partido. "Eles exerceram um direito, mas, sem dúvida, nos pegou de surpresa porque todas as conversas indicavam que encontraríamos uma solução."

ALIANÇA

Alckmin recebe hoje o reforço do PHS. O partido, que descartou a candidatura da deputada Zulaiê Cobra, se unirá à coligação já apoiada por PTB, PSDC e PSL. Com isso, o tucano garante 6 minutos para a propaganda eleitoral no rádio e na TV.

*Tucanos blindam CPIs em São Paulo

*Tucanos blindam CPIs em São Paulo

Das cinco comissões da Assembléia paulista, só uma investiga atos de alguma
gestão do PSDB. Em quatro anos, 69 pedidos foram engavetados*

*Paulo Franco**
Controlando 71 das 94 cadeiras da Assembléia Legislativa de São Paulo, com o
apoio de outras 11 legendas, os tucanos têm passado verdadeiro rolo
compressor sobre a oposição para enterrar as CPIs que possam se voltar
contra o Executivo paulista.
A estratégia tem surtido efeito. Das cinco comissões parlamentares de
inquérito em funcionamento na Casa – número máximo permitido pelo regimento
interno –, apenas uma investiga ato praticado sob a gestão do PSDB: a CPI da
Eletropaulo, que apura irregularidades na privatização da distribuidora de
energia, em 1998, no governo Mário Covas (1995-2001).
As demais passam longe do Palácio dos Bandeirantes. Tratam da queima da
palha da cana-de-açúcar, da má qualidade da telefonia, da remuneração dos
serviços médico-hospitalares e das perdas acumuladas por São Paulo com a
guerra fiscal promovida pelos governadores de outros estados (leia
mais<http://congressoemf oco.ig.com. br/Noticia. aspx?id=22810>).

As CPIs devem encerrar suas atividades no próximo dia 30 sem causar
embaraços aos governistas. E o que virá depois não tem potencial para tirar
o sono da base aliada do governador José Serra (PSDB).
Isso porque as próximas cinco comissões a serem instaladas foram propostas
por aliados. A partir de agosto, os deputados estaduais paulistas vão
investigar desde a situação financeira das Santas Casas, passando por
denúncias de abuso na área de direito autoral, até o repasse de recursos do
governo federal para a defesa animal e vegetal ao governo de São Paulo (leia
mais <http://congressoemf oco.ig.com. br/Noticia. aspx?id=22811>).
*Na gaveta*
Longe de ser novidade, esse cenário, porém, já foi ainda mais proibitivo
para os oposicionistas. De 1995 a 2002, na gestão dos governadores Mário
Covas e Geraldo Alckmin, foram criadas apenas 15 comissões de inquérito na
assembléia paulista.
Somente entre 2003 e 2006, 69 pedidos de CPI foram engavetados (veja a
lista<http://congressoemf oco.ig.com. br/Noticia. aspx?id=22811>),
incluindo algumas investigações incômodas para o governo, como a que
pretendia apurar denúncias de desvio de verba na Companhia de
Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU).
A CPI da Nossa Caixa, com objetivo de investigar a privatização do banco
paulista, também ficou no papel, bem como a comissão que pretendia verificar
as causas do acidente nas obras da Linha 4 do Metrô. O desastre deixou sete
mortos e 230 desabrigados em janeiro de 2007.
Na atual legislatura, o PT conseguiu assinaturas para protocolar apenas a
CPI da CDHU, que está em 13º lugar da fila e só deve começar daqui a dois
anos. A liderança do partido acusa o PSDB de usar a ordem cronológica para
atrasar a apuração de irregularidades, já que não há nada no regimento
interno que fale sobre a implantação de CPIs pela ordem de apresentação dos
requerimentos. Já os governistas acusam a oposição de querer apenas tentar
desestabilizar o Palácio dos Bandeirantes.
*Base maciça*
A vantagem do governo paulista nessa queda-de-braç o tem explicação
aritmética. Com o apoio de três em cada quatro deputados estaduais, a
aliança em torno de Serra engloba 12 partidos (PSDB, DEM, PMDB, PPS, PV,
PDT, PP, PR, PTB, PSC, PSB e PRB). Entre os 94 deputados, apenas 23 fazem
parte da oposição – os 20 do PT, os dois do Psol e um dissidente do PV
(Major Olímpio).
Os complicadores são de ordem prática. Para se aprovar um pedido de CPI, são
necessárias 32 assinaturas. Ou seja, sem a assinatura de pelo menos nove
governistas, os oposicionistas não têm qualquer poder para criar uma
comissão parlamentar de inquérito.
Entre os requerimentos engavetados por falta de assinaturas está o que
propõe a instalação de um colegiado para investigar denúncias de pagamento
de propina da empresa francesa Alstom a membros do governo paulista (leia
mais <http://congressoemf oco.ig.com. br/NoticiaPrint. aspx?id=22488>).
Segundo o jornal norte-americano Wall Street Journal, que trouxe o assunto à
tona, a Alstom teria liberado US$ 6,8 milhões, na forma de suborno, para
obter um contrato de US$ 45 milhões com o Metrô de São Paulo. As
investigações, porém, estão correndo em segredo de Justiça e pouco se sabe
sobre o caso até o momento no Brasil.
*CPI da Eletropaulo*
Incapaz de recolher assinaturas suficientes para criar a CPI da Alstom, a
oposição tenta incluir a investigação na comissão que apura possíveis
irregularidades no processo de venda do controle acionário da Eletropaulo. A
antiga estatal de energia do governo paulista foi vendida em 1998 para a
Light Gás, por R$ 2,02 bilhões.
A 15 dias do prazo para entrega do relatório, o presidente da CPI, Antônio
Mentor (PT), admite que não será possível analisar todos os documentos
referentes à Alstom. Ele pretendia incluir a análise desses dados no texto
final que será enviado ao Ministério Público. O relator, João Caramez
(PSDB), defende as investigações, mas não vê necessidade de uma nova CPI. "O
governo suíço já está investigando, nós não temos acesso a relatórios, não
temos documento e nenhuma das comissões tem provas", diz.
A comissão aguarda também informações do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) acerca de um financiamento concedido à Light Gás,
objeto de suspeitas da oposição. Faltam chegar ainda informações da
Eletropaulo sobre a venda de ativos.
"Nesses dez anos, a empresa está transformando ativos operacionais em
não-operacionais, para depois vendê-los", acusa Mentor. Ativos operacionais
são aqueles que atuam na distribuição, incluindo torres de transmissão,
cabos, postes, entre outros.
Segundo o deputado, o contrato de concessão autoriza a nova controladora da
companhia energética a alienar tudo o que for não-operacional, ou seja,
imóveis e propriedades que não participam da distribuição da energia.
Mas, de acordo com João Caramez, "não foi comprovada lesão aos cofres
públicos". Por isso, alega o tucano, a oposição na Assembléia Legislativa
paulista decidiu mudar o foco, passando a questionar a metodologia de
avaliação do patrimônio da Eletropaulo.

*Troca de acusações*
Na época da privatização, em 1998, o governo do estado utilizou o método de
fluxo de caixa descontado, que projeta um faturamento para os próximos 30
anos. Sobre esse valor é aplicada uma fórmula que inclui o patrimônio da
empresa para se chegar a um preço final, de acordo com informações da
assessoria técnica de Caramez.
Antônio Mentor diz que os fatos surgiram durante as investigações e que o
método de fluxo de caixa não inclui o patrimônio da empresa. Ele acusa a
Light Gás de ter praticado conluio, pois "a empresa concorrente se retirou
da licitação em cima da hora e a companhia foi arrematada pelo valor mais
baixo".
O presidente da CPI acusa a base governista de boicotar os trabalhos para
obstruir a investigação. Por outro lado, o relator diz que a oposição
procura irregularidade onde não existe, apenas para prejudicar o governo.
Esta é a segunda tentativa de se investigar a privatização da Eletropaulo.
Em dezembro de 2006, uma CPI com objetivo semelhante ao da atual foi
instalada, por determinação da Justiça, após resistência da base aliada. Mas
o colegiado encerrou suas atividades sem conclusões.
"A comissão teve início em dezembro, logo veio o recesso e no ano seguinte
não tivemos tempo para analisar nada", reclama Antônio Mentor, que também
foi presidente naquela ocasião. Para João Caramez, nada de irregular foi
encontrado na época e, por isso, a CPI terminou sem indiciamentos.

*CPI da CDHU*
A Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano do Estado de São Paulo é
considerada uma caixa preta pela oposição. Vários pedidos de CPI sobre o
assunto já foram engavetados. Um, porém, segue na fila.
Como mostrou o *Congresso em Foco* na véspera das eleições de 2006, em março
daquele ano o ex-presidente da CDHU Goro Hama e sua mulher foram condenados
pela Justiça paulista a devolverem R$ 90,7 mil aos cofres públicos, acusados
de enriquecimento ilícito e improbidade administrativa. Na época, ele era
alvo de 82 ações por improbidade administrativa relacionadas à sua gestão na
CDHU.
Tesoureiro de várias campanhas do PSDB, Hama é diretor executivo da Fundação
Mário Covas. O tucano era acusado pela Promotoria de Justiça da Cidadania do
MPE de causar prejuízos de R$ 685,7 milhões aos cofres do governo
paulista (leia
mais <http://congressoemf oco.ig.com. br/Noticia. aspx?id=11061>).
Outras denúncias sobre a CDHU esbarram na falta de colaboração do governo,
que demora a enviar documentos solicitados pela liderança do PT na
Assembléia Legislativa. O partido suspeita de desvio de dinheiro público na
construção de prédios, já que muitas obras apresentam graves problemas
estruturais, como afundamento de piso, má qualidade do material e até
instalação de dutos de gás com graves defeitos.
Em 13º lugar na fila de CPIs da Alesp, a investigação sobre a CDHU pode
significar justamente um tiro no pé do governo, já que, pela ordem
cronológica, deve ser instalada às vésperas das eleições de 2010.
**De São Paulo, especial para o Congresso em Foco.*

ATUALIZADA EM:16/06/2008
*http://congressoemf oco.ig.com. br/Noticia. aspx?id=22808*

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Até tu, Brutus?

Até tu, Brutus?

* Jorge H. Saladino

Não é de hoje que a profunda crise ética e de identidade da política, e, conseqüentemente, da classe política brasileiras, tem sido um dos principais fatores de atraso, exploração e aumento da desigualdade social no país. Acobertados por uma legislação rígida para com a massa pobre e trabalhadora e flexível e displicente em relação aos detentores do poder e dos meios de produção, os políticos e seus pseudo-partidos, na intenção perversa de manterem-se no poder à qualquer custa, mantendo e ampliando privilégios, relegando o país e nosso povo à uma eterna expectativa de mudança que nunca vem, pela ausência de um projeto claro de nação, o que se reproduz em todas as demais escalas do poder, chegando inclusive aos municípios e seus candidatos à prefeito e vereadores que, por falta de discurso e atitude, garimpam votos em troca de favores pessoais.

Essa verdadeira deturpação da vida pública e do exercício de suas funções (basta analisar a maioria dos vereadores, que fazem de tudo, até distribuir pipoca e algodão doce como um da região sul, menos seu papel de criar leis e fiscalizar as ações do prefeito) faz com que a população em geral, desacreditada da velha ladainha de promessas e mais do mesmo da política tradicional, tenha abandonado suas esperanças num mundo melhor, entregando-se como gado no matadouro à esse discurso empreendedor hipócrita que só explora ainda mais a mão de obra e a dignidade do cidadão., transferindo para o individuo à responsabilidade do Estado.

Entretanto, de vez em quando, um louco aparece tentando devolver ao povo essa auto-estima, esse acreditar que dá pra fazer diferente, com ética, justiça, enfim uma sociedade para todos.

Em nossa região, o último dessa geração foi Emanuel Fernandes, que com um discurso pautado na ética e na justiça, derrubou as velhas raposas, dando lugar à uma nova visão de cidade. Em nível nacional, o principal ícone atual foi e é o deputado Fernando Gabeira, cuja sagacidade ética reacendeu o orgulho ferido do povo, transferindo ambos, tanto Emanuel quanto Gabeira, para seus partidos e correligionários, a idéia de que nem tudo está perdido.

O povo acreditou e agora está pagando o pato. O PSDB de Emanuel, tornou-se tão auto-suficiente e arrogante, que sequer dá atenção ao povo que o elegeu, tratando à tudo e à todos com descaso, desqualificando qualquer idéia que não tenha partido de suas angélicas cabeças, impondo ao povo um regime de tirania disfarçada.

Já o caso de Gabeira é pior. Seu partido verde, no qual acreditávamos um dos últimos redutos da ética, tem se envolvido cada vez mais em escândalos de corrupção, de desvios de dinheiro público, de notas frias, de falcatruas mil, de intolerância, abuso de poder, autoritarismo e outros. Basta ler os principais jornais do país para perceber que o verde que interessa ao presidente do PV, Pena e sua turma é o verde da nota de dólar, não tendo nenhuma proposta decente para o país, nem para a Amazônia, preferindo juntar-se a “gente boa como o Kassab”, ao qual tece inúmeros elogios conforme matéria do ValeParaibano, o mesmo jornal que noticiou o sepultamento de candidatura à prefeito do PV na cidade de São José dos Campos, afim de atender ao interesses de uma minoria que prefere viver das migalhas da administração pública. Propostas para o agonizante rio Paraíba, nem pensar! O negócio desses verdes é lucrar!

Portanto, é mais do que necessário que o povo, assim como o povo argentino saia às ruas e exija mudanças, vote em gente nova, sem rabo preso e que demonstre capacidade e competência não para distribuir cestas básicas e botijões de gás, mas para resgatar ao povo o orgulho de ser brasileiro.

Jorge Henrique Saladino

Arquiteto

quinta-feira, 5 de junho de 2008

GRAMSCI E OS INTELECTUAIS ORGÂNICOS


GRAMSCI E OS INTELECTUAIS

Laudicéa de Souza Pinto *

I - Introdução

Nos dias que correm, ainda encontramos intelectuais que se consideram os portadores predestinados da missão revolucionária sagrada e os profetas carregadores da “lei histórica”.

Engels definira a ideologia como uma maneira de pensar especial, uma “falsa consciência” em que os motivos determinantes (de ordem econômica) permanecem inconscientes. A leitura mecânica desta idéia faz um burguês pensar como um burguês, um nobre como um nobre, e assim por diante. Ainda, se trabalhando com a categoria “inconsciente” se teria teorias racistas (onde o “inconsciente” não é tão inconsciente assim), o ariano pensando como deve pensar o ariano, e o judeu e o negro como “podem” pensar o judeu e o negro.

O intelectual, entretanto, se considera imune a tais contingências. O intelectual gozaria de uma consciência verdadeira e não se sentiria inconscientemente manobrado por seus interesses econômicos. Foi preciso que Lênin, analisando a questão ideológica e da consciência e formulando a noção de “ideologia proletária”, desse vigor à discussão sobre esses pontos.

A verdade burguesa, legitimada pelos intelectuais, se opõe a verdade “operária”. Os intelectuais, que assim agem (conscientemente ou não) desenvolvem uma filosofia que serve para encobrir as misérias da época e fundamentalmente a separação angustiante entre seus poderes e o limite real da sua “realização”. Dissimulam cinicamente a dominação burguesa em seus pontos essenciais. Cumprem a missão odiosa de fazer aceitar uma ordem e fornecendo-lhe justificativas. Trabalham para afirmar e propagar as verdades parciais engendradas pela burguesia e úteis ao seu “poder” (Nizan, 1978: 32).

II - O que quer dizer “intelectual”?

A palavra intelectual, no sentido que a empregamos hoje, teria sido introduzida por Clemencean durante o caso Dreyfus. Em seu arrazoado contra os cleros, Julien Benda acusa principalmente a injustiça dos que, por motivo de fanatismo patriótico, condenaram o oficial judeu. Da Rússia Czarista utilizou o termo intelligentsia para designar o conjunto de intelectuais que matutavam e discutiam ardorosamente os prós e contras da revolução esperada. O termo, apesar da distância dos tempos, continua sendo usado para designar “os que pensam”, os que utilizam uma linguagem de código indecifrável, um “não compromisso real” indefinido, etc.

Nós, entretanto, preferimos a noção que nos fica da leitura de Gramsci, onde intelectual não quer dizer uma formação acadêmica específica, mas uma de ação social, um certo tipo de agente capaz de fazer a ligação entre superestrutura e infra-estrutura, independente de sua escolaridade específica, mas relacionada diretamente com o “lugar” que ocupa nas relações materiais/sociais de uma determinada produção social.

Na sua introdução, ao Materialismo histórico e à filosofia de Benedetto Croce, Gramsci desmistifica que o intelectual, por motivos quaisquer que sejam, seja o único capaz de “saber”.

“É preciso destruir o julgamento de que a filosofia é algo sumamente difícil por ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. É preciso, portanto, demonstrar que todos os homens são filóso“fos”, e definir os limites e as características desta “filosofia espontânea” própria de todos, isto é, a filosofia que nela está contida” (Gramsci, 1981: 15).

Assim, todos os homens são filósofos, porque pensar é próprio do homem como tal, a não ser uma personalidade patológica. O que separa um grupo do outro (intelectual e o não intelectual) não é a forma de conhecimento em si mesmo, mas um tipo de logicidade do pensamento, a coerência sistemática, a possibilidade de usar a própria história do pensamento, o seu sentido e também o seu desenvolvimento nas ações e tentativas de explicações do mundo.

Para Gramsci, a estrutura e a superestrutura formam um “bloco histórico”, isto é, um conjunto complexo e contraditório, onde a superestrutura é o reflexo do conjunto das relações sociais de produção. Porém, é preciso observar que a relação entre superestrutura e infra-estrutura não se dá abstratamente, ela acontece de maneira concreta, histórica e essa ligação teria de ser feita organicamente, necessariamente, e ao intelectual caberia mais essa função (além da que lhe cabe na classe social), a de realizar a vinculação dentro do bloco histórico.

III - Autonomia do intelectual

Um dos problemas importantes levantados por Gramsci é o da autonomia do intelectual. O intelectual seria considerado até por partidos comunistas como uma espécie de “força autônoma”, independente da “camada social em que gravita”.

Mesmo quando lança idéias que são aproveitadas pelo proletariado, este o mantêm “organicamente” afastado, seus chefes seriam tirados do grupo operário ou camponês. A origem intelectual, ou o privilégio intelectual criaria uma certa desconfiança ente as bases operárias.

Gramsci teria mostrado que a autonomia do intelectual, diante das classes dominantes é impossível, e se tornaria mais difícil à medida que o intelectual criasse “nome”.

Assim sendo, o intelectual é colocado como o “representante da hegemonia do grupo dominante”, que faria a ligação entre a superestrutura e a infra-estrutura.

Esta relação entre a superestrutura e a infra-estrutura, cria para o intelectual a possibilidade revolucionária de se relacionar organicamente com a classe em ascensão (o proletariado revolucionário), rompendo com a sua posição tradicional, podendo essa relação orgânica se efetuar com mais clareza em momentos de crise e questionamento de superestrutura.

Se antes era impossível a autonomia do intelectual tradicional diante da “hegemonia” também “tradicional”, agora, quando pensado o intelectual em sua relação orgânica com a classe proletária, essa autonomia cai de vez por terra, é uma nova orientação prática que se impõe historicamente aos intelectuais, através de uma ação organicamente orientada para a hegemonia do proletariado.

Desta forma, se fundam de vez a relação nova e revolucionária, que liga os intelectuais aos proletários dentro do “bloco histórico”.

Segundo Gramsci “todo grupo social, ao mesmo tempo em que se constitui sobre a base original da função essencial que ele assume no campo da produção econômica, cria organicamente uma ou mais camadas intelectuais que lhe asseguram homogeneidade e consciência de sua própria função, não somente no setor econômico, mas também nos setores social e político...” essas camadas intelectuais não surgem de forma abstrata, democrática, liberal etc., mas sim de relações concretas dentro do processo histórico de produção social. E será, na sua forma de se articular com a classe revolucionária (ou não), que poderá cumprir a sua “função de agentes da hegemonia”. O “valor intrínseco” da atividade intelectual, se é que existe, só tem razão de ser quando cumprida esta função, logo o intelectual pode estar se tornando o agente “orgânico” da reação, e, nesse caso, será necessário que os intelectuais orgânicos do proletariado sejam capazes de assimilá-lo, de conquistá-lo ideologicamente, ou que as “alianças se tornem possíveis”, mas que acima de tudo, a luta seja pela hegemonia do proletariado.

“No momento da crise do ‘bloco velho’, burguesia e proletariado disputam a aliança dos intelectuais tradicionais, cuja adesão torna-se possíveis e ocorre ‘espontaneamente’ nos momentos em que um grupo social determinado aparece como historicamente progressista, isto é, quando ele promove os interesses da sociedade como um todo, não somente satisfazendo suas exigências fundamentais, mas também ampliando progressivamente seus próprios quadros, através da conquista constante de novas esferas de atividades econômico-produtivas”.(Gramsci – citado por Macciocchi, 1982: 195).

Faz-se necessário a unidade (inseparável) entre ação e idéia, e que se torne permanente a reflexão sobre o comportamento político de forma paralela, e isto torna imprescindível a relação entre teoria e prática, que é o único caminho de se articular o proletariado e o intelectual dentro da classe.

IV - O lugar do intelectual hoje

“O intelectual de hoje, se tem uma razão de ser, é na medida em que ele confirma e propaga diferenças; o que acontece – de forma trágica – é que a diferença é vista como uma dissidência que passa também pela pesquisa de formas e linguagens novas”. (Julia Kristeva, 1977: 2).

A esquerda vive sempre com a concepção do intelectual engajado de Sartre ou do intelectual orgânico de Gramsci, mas a urgência hoje, passa por uma reformulação desta moral do engajamento, desta “vontade de servir” (ou dever). Talvez hoje seja indispensável reavaliar a relação indivíduo/sociedade e conseqüentemente a relação intelectual – grupo social.

Para se entender melhor o papel dos intelectuais hoje, seria preciso definir novos tipos de relações que unem o indivíduo aos grupos.

Só a prática incorporada ao cotidiano do intelectual, sendo de esquerda ou não, poderá levantar novas possibilidades teóricas/práticas de sociedades bem sucedidas. Mesmo que o capitalismo seja (e o é) um desastre para o homem, o socialismo poderá deixar de ser o mito de uma sociedade ideal, e se trocará o culto teórico deste mito, por ações que levem à sociedade possível, independente das modificações e inovações teóricas que se tenham que fazer e assimilar. É preciso que o Marxismo seja então uma linha de conduta, e não simplesmente uma “fé” a ser seguida.

Pode até ser que “não exista uma solução total, política” (Julia Kristeva, 1977: 2/3), capaz de resolver os problemas de todos os seres humanos, mas é preciso, apesar disso, que não se fique apenas em discursos singulares que tentam ir além das crises “individuais” e formulá-las para todos, “para que um conjunto social se mantenha atento, à escuta daquilo que o corrói, que o ameaça”.

O importante é que os intelectuais (principalmente os marxistas) “de cada país levem em conta com plena consciência tanto as tarefas fundamentais, de princípio, da luta contra o oportunismo e o doutrinarismo ´de esquerda`, como as particularidades concretas que esta luta adquire e deve adquirir inevitavelmente em cada país, de acordo com os aspectos originais de sua economia, sua política, sua cultura, sua composição racional...” (Lênin, 1978: 15).

Mas como se organizaria o intelectual preocupado com o seu papel de agente fundamental numa formação social dada?

Gramsci diz que a luta pela hegemonia não termina simplesmente com a tomada do poder, e a preparação operacional para a revolução, a natureza e a organização deste tipo de “exército” (o Partido) que levará à conquista é uma preocupação. O ponto fundamental do problema reside não na organização formal – Gramsci aqui é um leninista – mas na natureza da relação entre o Partido e a classe trabalhadora. Aqui, para nós é importante vermos como o intelectual se situa nesta relação (Partido/classe trabalhadora). O Partido deve não apenas guiar, ensinar e “representar” a classe, mas também fundamentar-se em sua atividade mobilizada como classe, “em cuja a base está a organização da fábrica, sobre a qual Gramsci deu tanta ênfase durante sua época em Turim” (Hobsbawn, 1977: 63).

Os intelectuais num país como o Brasil, por exemplo, talvez vivam se perguntando sobre o seu papel e o seu lugar. A história está “acontecendo”, e não espera pelos retardatários, como se ser sujeitos dela, quando ainda não podemos definir para que servem pelos sítios daqui o intelectual. No momento a classe trabalhadora está mostrando que nestes últimos anos de silêncio, desenvolveu os mecanismos capazes de criar seus intelectuais orgânicos, que estão em estreita relação com a política de hegemonia dos trabalhadores. E os intelectuais que se originam de outras classes?

Como se sabe, a maioria deles entre nós são de classe média. O que nos indagamos é se estão eles se relacionando de forma orgânica com a classe dominante, e neste caso, legitimam o sistema e defendem “o bloco histórico” para os poderosos, ou estão organicamente se relacionando com a classe trabalhadora?

Esta relação intelectual/classe, não é uma abstração, é algo tão concreto como um dia após o outro. E, talvez, seja esta relação o lugar que deva o intelectual não abrir mão, independente de sua origem de classe, e sabendo que esta trará problemas e vícios que terão que ser resolvidos. Este lugar não é um lugar teórico, é um lugar concreto, palpável, capaz de condicionar os instrumentos e desenvolvimento da teoria. Não basta ser um bom teórico, se faz necessário, para se ocupar este lugar, que se tenha uma “praxis” coerente com a luta de se fazer da classe trabalhadora, a classe hegemônica.

E, mais uma vez, é preciso não esquecer que ação e idéia são uma unidade inseparável. Não basta o discurso teórico brilhante, é preciso, antes de tudo, a ação coerente com o discurso da “classe trabalhadora” através de seus intelectuais orgânicos, independente de suas origens sociais, se possível.

Bibliografia:

ADLER. Gramsci. “Lênin no Ocidente”. In. Encontros com a Civilização Brasileira, nº 5. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a política e o estado moderno. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira; 1979.

........................ Materialismo histórico e a filosofia de Benedetto Croce. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1981.

HOBSBAWN, Eric. “O grande Gramsci, das lutas à prisão”. In. Cadernos de Opinião, n. 1; 1977.

KRISTEVA, Julia. Cadernos de Opinião, n. 1; 1977.

LÊNIN, Vladimir Ilitch. Que Fazer? Hucitec: São Paulo; 1975.

............................. Esquerdismo, doença infantil do comunismo. São Paulo: Ed. Símbolo; 1978.

Macciochi. A favor de Gramsci. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra; 1982.

NIZAN, Paul. Les Chienes de Garde. Paris, Maspero, 1978.

Resumo: O propósito do artigo é o de tendo por referencial as propostas de Gramsci, refletir sobre o papel do intelectual no mundo contemporâneo.

Palavras-chave: intelectual orgânico, autonomia intelectual e bloco histórico.

* A autora é professora do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de janeiro.

FOnte: http://www.achegas.net/numero/onze/laudicea_pinto_11.htm

A culpa é sempre do pobre!

A culpa é sempre do pobre!

*Jorge Saladino

Fiel à política de propaganda nazista, de insistir na mentira até que se torne verdade, o governo de São José dos Campos, não perde uma oportunidade de lembrar ao povo que o “o inimigo do povo é o próprio povo!”

Em comunicado recente na mídia, em relação à greve dos condutores das empresas de ônibus, o governo não hesita: Joga a população contra os trabalhadores, ameaça, chantageia, omite-se às suas responsabilidades, assim como tem feito em todos os casos, onde a população ou grupo de trabalhadores se mobiliza afim de ter seus mínimos direitos respeitados e atendidos.

Isso é fácil de verificar no caso do Pinheirinho, onde, tenta-se vender a idéia de que “só tem bandido lá dentro”, no caso da GM, onde na defesa dos interesses da empresa, tentam jogar a responsabilidade do desemprego na cidade nas costas dos funcionários, como se não soubessem que a política atual da empresa é a de precarizar a mão de obra, não pensando duas vezes em fechar fábricas e levar para qualquer lugar do mundo onde possam explorar ainda mais o trabalho; nas muitas obras embargadas, como no caso do Fórum e do Teatro, onde não são respeitadas condições mínimas de trabalho; nas muitas e muitas desapropriações que, do dia pra noite, tiram as pessoas de seus lares sem qualquer garantia; na multidão de mendigos nas ruas, onde inclusive houve recente morte por frio nas nossas ruas devido á falta de sensibilidade do governo em dar um teto para essas pessoas em seus abrigos... Enfim, são muitas e muitas as ações onde a população mais pobre é sempre tratada com descaso e ainda tem jogada sobre suas costas, a responsabilidade pelos problemas, afinal, nesta ótica, o pobre tem culpa de ser pobre!

Mas em toda essa retórica, essa ladainha, eles tem uma razão: O inimigo do povo tem sido o próprio povo! Porque se deixa enganar pelas promessas dessas pessoas que estão claramente dizendo o tempo todo que nós, povo não somos prioridade, ao contrário, nós somos pra eles, o problema.

Portanto é hora de escolher um lado, um lado no qual o povo seja prioridade, senão continuaremos sendo explorados e humilhados, esmolando nossos direitos nessa “cidade de regras”, onde a regra é se dar bem nas costas do pobre.

Jorge Henrique Saladino

Arquiteto


quarta-feira, 4 de junho de 2008

Maio de 1968 - maio de 2008: “padres vermelhos” na fábrica da Renault

Maio de 1968 - maio de 2008: “padres vermelhos” na fábrica da Renault

Jean Birnbaum

Em 28 de maio de 1968, em Paris, um cartaz aparece afixado nos muros do Quartier Latin. Ele reproduz um artigo do filósofo Maurice Clavel (1920-1979), inicialmente publicado no jornal “Combat”. Nele, este esquerdista cristão, um admirador rebelde do general de Gaulle, propõe uma interpretação metafísica da insurreição: “Esta revolução é antes espiritual”, escreve. “O espírito está se vingando. Já não era sem tempo. A esperança está aí. Estudantes e jovens operários respondem por ela”. Mais tarde, este simpatizante maoísta chegará a ponto de proclamar: “Maio de 68 confirmou Deus. Sim, um Pentecostes da Igreja invisível. Houve uma forte ventania e as portas bateram”.

Este sopro prodigioso tem um nome: unidade. De um lado, a juventude estudantil se insurge, e de outro, os operários entram em greve; afinal, existe algo mais previsível do que essas ações? O verdadeiro acontecimento está em outro lugar - na fusão das duas revoltas. Juntos, tudo se torna possível: quarenta anos antes da provocação sarkozysta, Maio de 68 afirma a urgência de acabar de vez com tudo o que separa. “A grandeza do Maio francês está em dizer que a relação dominante/dominado não tem mais razão de ser”, assegura Jean-Claude Milner, um ex-maoísta e lingüista refinado. “No século 17, a respeito da Fronde [1648-1653, período de levantes em que se mobilizam o povo, os parlamentares e os nobres, e que abala a autoridade da monarquia], o cardeal de Retz declarava: ‘O povo entrou no santuário: ele levantou o véu… ‘ Maio de 68 é isso: ao longo de alguns dias, o povo levantou o véu”.

Milner faz parte do pequeno grupo dos militantes que definem as bases da Esquerda Proletária (GP), no outono de 1968. Todos eles compartilham uma mesma esperança: prolongar o estado de graça de Maio, impedir que o véu recaia. Não demora muito para eles furtarem bilhetes e organizarem circuitos gratuitos no metrô. Em 8 de maio de 1970, eles assaltam o empório de luxo Fauchon, em Paris, e logo depois vão distribuir o caviar num albergue de trabalhadores imigrantes. “Os militantes da GP bancavam os Robin Hood”, comenta em tom de brincadeira o filósofo Bernard Sichère, ele também um ex-maoísta, só que integrante de uma outra vertente. “Eles estavam imbuídos de um espírito aparentado à teologia da libertação. Aquele era exatamente o tipo de ação que poderia ter sido perpetrada por cristãos de esquerda”.

Mas o essencial, aos olhos dos jovens “guardas vermelhos”, é fazer com que os estudantes e os operários continuem agindo como atores contracenando uns com os outros, e até mesmo trocando os papéis entre si. Além disso, em artigos de “La Cause du Peuple”, (”A Causa do Povo”, o jornal da GP), uma obsessão sobressai de maneira recorrente, diretamente inspirada na “revolução cultural” chinesa: é preciso lutar contra a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual, superar as diferenças entre “os que trabalham e aqueles que pensam”. Para tanto, a iniciativa mais urgente consiste em multiplicar os contatos no terreno: “Aquele que não participou do inquérito não tem o direito de tomar a palavra”, martelam os militantes, retomando uma fórmula de Mao Tsé-tung.

A esta tarefa de investigação, os repórteres de “La Cause du Peuple” vão se dedicar de corpo e alma: “Nesta época, eu me torno uma espécie de monge mendigo”, testemunha Jean-Pierre Barou, hoje um editor, que multiplica então os inquéritos na Bretanha. “Eu perco a mulher com quem estou vivendo, e a menina que tive com ela também, e inscrevo a tragédia do proletariado em minha carne. Em Fougères, uma operária perguntou-me: ‘Para ganhar a sua vida, será preciso perdê-la?’ E lembrei-me imediatamente da última frase da minha mãe, ela também uma operária, em seu leito de morte: ‘Sabe de uma coisa, Jean-Pierre, eu levei uma vida de ingênua’”.

Os operários não são nem ingênuos nem passivos; no que lhes diz respeito, a imaginação se desdobra numa espontaneidade soberana: tal é para os maoístas a grande lição de Maio, aquela que arruína de uma só vez a antiga ortodoxia marxista-leninista. “No fundo, o que todos aprendem em Maio de 68 é que a classe operária pode pensar; e fazer com que outros pensem”, resumirá mais tarde o chefe da GP, “Pierre Victor”, mais conhecido como Benny Lévy, num diálogo com Philippe Gavi e Jean-Paul Sartre, que será publicado sob o título “On a raison de se révolter” (”Estamos certos ao nos revoltarmos”; editado na França pela Gallimard, 1974). A partir daquele momento, tanto na usina da Renault em Flins como naquela da Usinor (Dunkerque), ou ainda na fábrica da Babcock-Atlantique (Saint-Nazaire), trata-se de reconhecer o “poder espiritual criador” das ações operárias.

Em Maio de 68, um dos primeiros reflexos dos operários foi seqüestrar o patrão? “Estamos certos ao seqüestrarmos o patrão!”, dispara a GP. Outros maltrataram os executivos antes de procederem à “grande faxina” dos escritórios? “Bravo!”, clamam ainda os maoístas, que advertem os burgueses e seus “lacaios” nos seguintes termos: “Quando nós assim quisermos, todos unidos, nós os seqüestraremos, nós cuspiremos nas suas caras e nós os enforcaremos. Primeiro pelos pés…”

Mas a vocação dos maoístas não consiste apenas em investigar ou em promover arruaças na frente da sede das empresas. Ela exige endossar a bata azul dos operários. Para as dezenas de militantes, homens e mulheres, que decidem “instalar-se” nas fábricas, inicia-se então uma autêntica conversão: “Não é tão simples assim passar sem mais nem menos do estatuto de estudante para o de OS (operário especializado)”, conta Denis Clodic, que havia começado um ciclo de estudos de etnologia na Sorbonne quando resolveu pleitear um emprego na Renault. “É um percurso e tanto; em primeiro lugar, eu tive que fazer com que os outros se esqueçam do meu passado. Então, numa mesma linha de montagem, em Billancourt, eu me encontrei no meio de angolanos, de marroquinos, de portugueses. Neste tipo de situação, você deve aprender a falar com 300 palavras. Você acaba se tornando uma espécie de padre-operário: nós somos iguais a padres, só que padres vermelhos… que mordem”.

Dedicação, coragem, disciplina: entre o trabalho na usina e as reuniões com os camaradas, o “implantado” dorme pouco, dá tudo o que pode de si mesmo. No cerne do engajamento, insiste Benny Lévy, há “o elemento ideológico do sacrifício”. Um revolucionário não teme a morte, repete o líder maoísta. A morte simbólica, em primeiro lugar, quando o militante se retira após ter cumprido a sua missão de mediador, conforme testemunha Jacques Theureau, atualmente um pesquisador em ergonomia: “Nós fizemos de tudo para que os jovens operários adquirissem o domínio das operações”, recorda-se este antigo implantado numa usina da Renault, que organizou junto com outros militantes a visita de Sartre na usina de Billancourt, em outubro de 1970. “Nós nos considerávamos como os intermediários entre o não-poder e o poder. Nós orquestrávamos o nosso próprio desaparecimento”. Então, segue-se a morte real: em 25 de fevereiro de 1972, na Porta Zola da fábrica Renault em Billancourt, Pierre Overney desaba. Alguns instantes antes disso, ao encarar o vigia Jean-Antoine Tramoni, que estava apontando uma arma para ele, o jovem operário maoísta havia dito simplesmente: “Vai logo, atira!”

Nos dias que se seguem a este drama que abala a França inteira, os “novos partidários” da GP resolvem empenhar todas as suas forças na batalha. Não só seqüestrando Robert Nogrette, um executivo membro da diretoria da Régie Renault, como também, e, sobretudo, ocupando novamente as dependências da usina de Billancourt, apesar de esta ter a sua segurança reforçada pelos policiais militares. Neste caso, mais uma vez, a sua predicação revela ser tão solitária quanto suicida: “No terceiro dia, a gente tem o sentimento de que a coisa está preta”, conta Denis Clodic, atualmente um diretor de pesquisas na École des Mines (uma importante escola de engenharia) de Paris. “Em vez de nos dispersarmos, tomamos a seguinte decisão: ‘Mais vale fazer isso de maneira gloriosa’. Então, penetramos mais uma vez na fábrica, e lá, a situação toma um rumo verdadeiramente crítico: o nosso grupo se vê cercado e imobilizado, de maneira planejada, por uma centena de guardas que nos espancam e nos entregam para os policiais. Eu mesmo sou preso e levado para a prisão de Fresnes com a mandíbula destruída”.

Overney está morto, e o país permanece calmo. Para os militantes da Esquerda Proletária, este é o começo de uma vasta desilusão. Em breve, uma outra experiência, desta vez muito mais amena, acabará desnorteando a todos de uma vez por todas: a famosa greve da usina da Lip, que fabrica relógios em Besançon. Em 1973, ao protestarem contra o fechamento anunciado da sua empresa, os operários se organizam. No que vem a ser a primeira surpresa que eles aprontam, eles reinventam a autogestão. “Nós produzimos, vendemos e dividimos o pagamento”, este é o seu slogan. A segunda surpresa: eles são tomados pelo entusiasmo religioso, conforme constatam os emissários da GP. “Junto com Benny (Lévy), nós vamos até lá, e não acreditamos no que estamos vendo”, recorda-se Denis Clodic. “Eram padres brancos, líderes carismáticos, vestidos de branco, que organizavam uma comunidade em estado de revolta. A impregnação do catolicismo era enorme. Eles realizam tudo aquilo que nós havíamos sonhado, só que de uma maneira muito diferente, sem pensarem num único instante em guerra civil. Resumindo, nós logo compreendemos que não estávamos no rumo certo”.

Um detalhe chama as atenções de Benny Lévy e dos seus camaradas: os operários da Lip soldaram as portas da fábrica de modo a que elas permaneçam abertas, e até mesmo escancaradas. Isso nada tem a ver com as práticas da CGT (o principal sindicato francês de operários): desde Maio de 68, com o objetivo de impedir os avanços da “influência perniciosa” dos esquerdistas, o sindicato bloqueia sistematicamente o acesso das empresas. Já, no comitê de ação dos grevistas da Lip, ao contrário, todo mundo é convidado para tomar a palavra, participar, vender relógios… Ora, esses trabalhadores dispensaram sem nenhum problema o Pequeno Livro Vermelho, constatam os observadores da GP. Eles são liderados, em primeiro lugar, por ativistas cristãos, entre os quais o sindicalista Charles Piaget, membro da Ação Católica Operária, e o padre dominicano Jean Raguenès.

Na aventura coletiva dos maoístas franceses, o encontro com aqueles homens se revela decisivo. Ele provoca um brutal questionamento. “No nosso modo de ver, a greve da Lip representou o ponto extremo do grande impulso imprimido por Maio de 68″, precisa a historiadora Evelyne Cohen. “Eram operários tal como havíamos sonhado, e eles eram crentes. No contato de alguém como o padre Raguenès, que nos relata as suas experiências místicas, nós compreendemos que não é mais possível prosseguirmos mais adiante daquela forma no caminho da política. E que as molas propulsoras do engajamento são também religiosas”.

No final de 1973, a Esquerda Proletária opta pela autodissolução. A hora do inquérito social parece ter chegado ao fim. Chegou agora o tempo da busca espiritual.

“Le Monde”

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