quinta-feira, 19 de junho de 2008

MAIS UM GOLPE DE MÍDIA CONTRA O IRÃ?

MAIS UM GOLPE DE MÍDIA CONTRA O IRÃ?

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) publicou em sigilo para a
ONU o seu novo relatório sobre o programa nuclear do Irã. Os Estados Unidos
foram rápidos em acusar os iranianos, por intermédio da Secretária de Estado
Condoleezza Rice, afirmando que "os iranianos têm muito a explicar".
Felizmente para os estadunidenses, como o relatório não foi revelado
publicamente, abriu-se mais uma janela para que palavras sejam trocadas como
convir, e a mídia ocidental cumpriu seu papel em atemorizar todos sobre o
"perigo que representa o Irã". Se o relatório finalmente tornar-se público,
será tarde demais para apagar a falsa retórica construída.

A mesma estratégia foi utilizada para viabilizar uma invasão ao Afeganistão,
depois ao Iraque, e agora ameaça o Irã. Meses antes, George W. Bush acusou
os iranianos de "matar estadunidenses no Iraque", ao supri-los com "armas de
combate sofisticadas" . A missão do general Petraeus, líder da ocupação no
país e herói da mídia ocidental, foi encontrar e forjar alguma prova dessa
acusação. Em maio desse ano, um "esconderijo de armas sofisticadas" foi
encontrado por Petraeus. A mídia comemorou, e a ligação do Irã com a
insurgência xiita parecia legitimar-se, mas naufragou quando especialistas
estadunidenses não conseguiram encontrar provas que ligassem as armas ao
Irã. Dessa forma, a história sumiu da mídia, mas as dezenas de manchetes que
acusavam o governo iraniano é que marcam as pessoas – o efeito da
propaganda.

O que restou então para assustar o povo ocidental é a questão do
desenvolvimento nuclear iraniano, e o relatório sigiloso da AIEA foi
revelado na hora certa. Antes de qualquer coisa, deve ser esclarecido que as
investigações da AIEA não tratam de assuntos atuais, no caso a produção de
armas sob o governo de Mahmoud Ahmadinejad, mas sim do histórico iraniano
com a tecnologia nuclear desde a disseminação da técnica na década de 1980,
sob coordenação do doutor A.Q. Khan, que desenvolveu a capacidade nuclear do
Paquistão. De acordo com o último relatório público da AIEA, "não há
evidências de um programa de armas nucleares não-declarado em lugar algum"
no Irã. Os Estados Unidos e seus dois principais aliados, o Reino Unido e
Israel, ignoraram o relatório e insistiram na retórica de acusações. Mas em
pouco tempo ficou claro que eles perceberam que contrariar os especialistas
da AIEA não os ajudava, uma vez que poderia destruir qualquer credibilidade
das investigações no futuro. Isso aconteceu com o Iraque, em que estava
provado pela AIEA que não havia as famosas "armas de destruição em massa",
mas não poupou Saddam Hussein de uma devastadora invasão baseada em
falácias. Mais uma vez, as mentiras caíram, mas as propagandas venceram.

Os Estados Unidos queriam o petróleo iraquiano, e querem o petróleo
iraniano. Saddam Hussein falou a verdade, abriu seu país para a AIEA, e foi
confirmado que ele não tinha "armas de destruição em massa". Ele pagou o
preço por ter aceitado o jogo dos Estados Unidos, e ter acreditado que
estaria salvo ao falar a verdade e agir de acordo com a Lei Internacional.
Mas a Lei não vale nada para a Casa Branca, e a questão verdadeira sempre
foi o petróleo. Nesse exato momento, advogados e diplomatas estadunidenses
lutam no parlamento iraquiano para aprovar uma lei que lhes garante o
controle do petróleo iraquiano, o estabelecimento de 13 bases permanentes
nos quatro cantos do país e imunidade a cidadãos estadunidenses das leis
iraquianas. Os iranianos já entenderam isso, e agora a comunidade
internacional precisa despertar – ter ou não ter armas nucleares não é mais
a questão.

O desenvolvimento de tecnologias nucleares é legal perante a Lei
Internacional para os países que assinarem o Tratado de Não-Proliferaçã o
Nuclear. Considerando isso, o Irã tem o direito de enriquecer urânio, já que
a República Islâmica assinou o tratado ainda em 1968. Mas isso não lhes
garante que a "liberdade e democracia" do ocidente não virão. O governo
iraniano de Mossadeq seguia o modelo democrático ocidental, mas decidiu
nacionalizar o petróleo iraniano. Como conseqüência, os Estados Unidos e o
Reino Unido lhe derrubaram, e instalaram o governo-fantoche do Shah,
operando ao lado de polícias secretas ocidentais. Os iranianos sabem disso,
e estão preparados. Pelo menos por enquanto, a verdade venceu.

FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo. com.br
Edição nº107 - http://orientemediovivo.com. br/pdfs/edicao_ 107.pdf
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Humam al-Hamzah
Oriente Médio Vivo
www.orientemediovivo.com.br

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